Nada do que li, ouvi ou vi até agora sobre a última operação da Polícia Federal, apelidada criativamente de "Carne Fraca”, parece-me justificar o espetáculo midiático que foi instalado. Com base em precipitadas alegações unilaterais lastreadas em escassos documentos colhidos em casos notadamente isolados, estão abalando a imagem de dezenas de empresas, com fortes reflexos não só na sua valorização de mercado (e prejuízo a investidores nacionais e estrangeiros), mas também comprometendo milhares de empregos, a geração de riquezas oriundas de pesadas exportações e, ao fim, a própria economia do país.
Não sou ingênuo a ponto de achar que o setor de alimentos esteja imune ao desvio ético e moral por parte de alguns - funcionários, empresários e servidores públicos -, mas não me parece razoável pensar que toda a carne produzida no país possa ter sido alvo de um movimento malévolo e generalizado que deixava a saúde dos consumidores - e o próprio ativo que é a credibilidade das empresas de alimentos - num segundo plano. Isso representa não só um absurdo exagero, como também um desconhecimento básico sobre a história e a filosofia de muitas das companhias "acusadas como suspeitas", todos os controles internos e externos que existem nas produções de alimentos e, principalmente, os níveis de exigências dos próprios mercados importadores e dos vários órgãos estatais envolvidos na sua cadeia produtiva e comercial.
Parece loucura, mas virou praxe no Brasil querer condenar a tudo e a todos com base em acusações superficiais, pueris e generalizadas, achar que todo empresário é, foi ou será bandido. Faz-se um grande escândalo, promove-se uma coletiva de imprensa com a presença apoteótica do Ministério Público, acusam-se vários, algemam-se outros, tudo no início do dia (para dar tempo da notícia reverberar desde cedo). Todos vão para mídia e se vende muito jornal, faz-se a fama de alguns e a desgraça de outros. Daqui alguns anos, se os ora condenados pela imprensa forem absolvidos pelo Judiciário, talvez saia uma pequena nota na última folha do jornal. Talvez. Esses são sinais de um Brasil moderno e que queremos?
Em tempos de inquisição, levemos todos à fogueira ou à forca, pois dessa forma atendemos aos anseios do 4º Poder - preocupado em cobrir escândalos (verdadeiros ou não), sem o devido descortinamento ou avaliação sensata do todo - e de uma sociedade sedenta por prisões e por sangue. Se os punidos são culpados ou não, pouco importa.
Em meio a tudo, é preciso equilíbrio. Os órgãos ou instituições envolvidos - principalmente a imprensa, a Polícia Federal e o Ministério Público - devem agir com parcimônia, isenção de ânimo e muita responsabilidade avaliando, sempre, o peso de suas batutas, a força de seus atos e os efeitos de suas acusações. Muita calma para não amaldiçoarem quem, de forma lícita, ajuda a manter o país vivo, gera empregos, movimenta riquezas, exporta produtos, paga impostos e, principalmente, contra tudo, ainda acredita e dá duro para se manter por aqui.